QUEM SOMOS E NO QUE CREMOS.

"E todos continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão, partindo o pão juntos e fazendo orações."
Atos 2.42 NTLH

Somos um grupo de pessoas que amando a Deus e uns aos outros decidiu se reunir semanalmente na cidade de Itajaí-SC. Nossos encontros acontecem nas casas ou em outros ambientes informais.
Primamos pela alegria e informalidade, aspectos próprios do viver comunitário e daquela expressão viva da igreja do primeiro século.

Desejamos viver como igreja orgânica, isto é, um corpo formado por pessoas e dons diversos, mas ligadas ao mesmo Deus e Palavra. Nessa diversidade temos a liberdade de expressar nossas habilidades para a glória do Senhor.

Somos um grupo simples, que não está preocupado com a institucionalização das formas e práticas. Acreditamos que o verdadeiro culto acontece na vida, no nosso ir e vir diário, e que os encontros coletivos são apenas uma parte desse viver em adoração (ver Jo 4.20-24).

Somos um grupo aberto àquelas pessoas que desejarem nos conhecer e viver a vida cristã sem uma roupagem formal e religiosa, mas cheia de vida e paz.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

IGREJA, ORGANISMO RELACIONAL (Atos 2.42-47)

É indiscutível que o Livro de Atos apresenta relatos das primeiras experiências dos discípulos, buscando viver em comunidade, sem a pessoa de Jesus, para os orientar na caminhada. Claro que Jesus se fazia presente, mas agora, por meio do Espírito Santo, que fora derramado em abundancia em suas vidas (At 2.1-13).

Essa comunidade, que logo se deparou com a adesão de cerca de três mil pessoas, teve de encarar o desafio de existir como organismo vivo e relacional. Isso fazia sentido, pois a final, tratava-se de pessoas reunidas entorno da pessoa de Jesus. Neste caso, eram evidentes as necessidades de cada individuo, sendo encaradas como importantes na caminhada diária de todos. Eles demonstravam um amor intenso para com Deus, e uns para os outros. Isso se expressava de maneira natural no que falavam e faziam, e isso se tornou um grande sinal da manifestação divina para aqueles com os quais os discípulos se relacionavam.

Embora na atualidade estejamos muito distantes de grande parte do que a igreja primitiva experimentou, e que tem sido até capaz de produzir em muitos (para não dizer a maioria) uma certa repulsa aos valores essenciais vividos pela Igreja, quando do seu nascedouro, nunca é demais reafirmar que é este o modelo de igreja que devemos seguir.

Convencidos disso, devemos então pensar na Igreja como um organismo vivo (Corpo de Cristo), e não como uma instituição ou negócio humano. Ainda que a Igreja seja formada por homens (pessoas), sua essência é divina. Trata-se de um Corpo vivo, que deve estar completamente sujeito a cabeça, Cristo Jesus. Apenas Jesus tem toda autoridade e domínio sobre a Igreja, pois é Ele quem a dirige conforme sua vontade soberana.

Esse organismo não é estático, mas vivo e expressivo, formado por muitos membros (ver 1 Co 12.12-31). Sua expressão viva se dá por meio dos relacionamentos ou “cooperação de cada parte”. A manifestação relacional desse organismo se dá em duas grandes esferas, a saber:


PARA COM O DIVINO

Sendo Corpo de Cristo, a Igreja é antes de tudo um organismo que existe e se movimenta para Deus. A razão primordial é adorar a Deus em “espírito e em verdade” (ver Jo 4.19-24). Toda a vida desse organismo depende dessa fonte, sem a qual ele não existe, nem pode se expressar de maneira saudável e transformadora neste mundo.

Vejamos algumas praticas da igreja primitiva, que demonstram o quanto eles viviam em Deus e para Deus:

“Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (v.42). Esta doutrina era aquilo que os apóstolos dos dias de Jesus (os doze) ensinavam com base no que aprenderam com o Mestre. Não se tratava de uma suposta “nova revelação”. Era o ensino de Jesus, historicamente fundamentado e relevante para um viver capaz de expressar a vontade de Deus.

É bom que se diga que a “doutrina” (palavra) dos “apóstolos” da atualidade não pode ser trata em pé de igualdade com a dos doze (e Paulo). Na verdade, devemos seguir o conselho paulino: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja maldito” (Gl 1.8). Infelizmente há muita gente indo além, anunciando mensagens espúrias, e o que pior, não são poucos os que acreditam e abandonam a verdade.

Não há como nos relacionarmos bem com Deus, a menos que estejamos sempre predispostos a dar ouvidos à Sua Palavra. O organismo igreja só pode se mover corretamente se deixar que a os princípios verdadeiramente bíblicos norteiem sua caminhada. Os crentes primitivos não negociavam isso porque eles criam num relacionamento com Deus por meio da sujeição à doutrina que Este havia lhes confiado.

“e nas orações” (v.42). O que é a oração? Sem duvida essa é uma pergunta para a qual obteremos respostas das mais diversas. É possível que a diversidade de respostas quanto a esse tema, seja um sinal claro da maneira como muitos de nós vivenciamos tal pratica. Não acho que o problema resida na ausência de informações ou no fato da oração não estar sendo “praticada”, mas sim, no que geralmente é ensinado sobre o tema, e maneira como a grande maioria ora.

Para muitos de nós a oração passou a ser um grande amuleto religioso. Um meio para obter respostas ás suas indagações pessoais, e “conquistar no mundo espiritual”. Outros por sua vez, se valem da oração para cumprir seu ritualismo religioso, que diz coisa do tipo: “você um bom cristão se orar pelo menos uma hora todos os dias”.

Mas será que era assim que a igreja primitiva perseverava nas orações? É evidente que não! Para eles, a oração era uma ação relacional, um diálogo com Deus, e não uma prática religiosa. Muitos deles receberam o ensino de Jesus, sobre o tema (ver Mt 6.5-15). Devemos considerar que Jesus começa dizendo: “Quando orardes, não sereis como os hipócritas...” (v. 5). Orar é se relacionar com Deus como um verdadeiro adorador, e não como um pedinte ou alguém que vai a um supermercado religioso com sua “lista de compras” (pedidos).

Essa oração é feita em todo tempo, em todo lugar e de múltiplas formas. É expressão de vida tanto nos momentos alegres quanto em meios as tribulações (ver At 4.23-31).

“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa” (v.46). As reuniões coletivas sempre foram e continuarão sendo uma marca do Corpo de Cristo. Como organismo vivo e relacional, ela também se expressa por meio dos ajuntamentos, das celebrações. É verdade que em muitos casos, principalmente da igreja organizacional, tais reuniões reflitam erroneamente a própria razão de ser do grupo, a ponto de muitos afirmarem que ir à reunião é “ir à igreja”, o culto é a reunião, etc.

Novamente vemos uma disparidade com o conceito de reunião da igreja primitiva, pois eles encaravam os encontros como momentos de alegria e de compartilhar mutuo.Todavia, as reunião coletivas não eram o cerne da existência da comunidade, mas apenas uma das partes de sua expressão visível.

Nos ajuntamentos eles experimentavam ao mesmo tempo a dupla face relacional como comunidade cristã. No templo e nas casas, eles tanto se relacionavam com Deus por meio de orações, doutrina e manifestação de dons, como também uns com os outros, através de conversas, ajuda mutua, partir do pão, etc.

Na atualidade nossos ajuntamentos parecem apenas focar uma dessas esferas. Nas reuniões as pessoas são convocadas a “prestar culto a Deus”, e embora estando juntas, pouca coisa acontece na esfera do abençoar um ao outro, orar uns pelos outros, compartilhar uns com os outros.

Penso que isso se dá principalmente pelo fato de entendermos a igreja como um lugar aonde vamos, o culto com uma reunião da qual participamos (a maioria passivamente). Neste sentido, as pessoas passam a ser frequentadores, audiência, contribuintes em potencial, não com seus dons espirituais, mas com seus recursos materiais.

É evidente que precisamos rever nossos ajuntamentos, a fim de, quem sabe voltarmos àquilo que os mesmos nunca deveriam ter deixar ser.


PARA COM O HUMANO

Na caminhada diária da igreja orgânica a relação com o divino não é uma via de mão única, pois não se trata apenas da observância das questões acima descritas. Além destas, há elementos que descrevem nossa relação interpessoal, a vida comunitária ao lado dos demais membros do Corpo.

Notemos com atenção algumas expressões da forte relação entre os cristãos da igreja primitiva:

“Perseveravam na comunhão” (v. 42). A comunhão para eles não era o resultado de nenhuma programação ou evento, mas sim, a consequência natural da convivência que tinham uns com os outros. Era fruto do amor de Deus, derramado em seus corações por meio do Espírito Santo (ver Rm 5.8). O próprio texto nos mostra como essa comunhão se expressava entre eles.

“Todos os que creram estavam juntos” (v. 44). Quando temos afinidade uns com os outros é natural desejarmos e nos esforçarmos para estar juntos. A convivência é algo natural entre os membros da Igreja Corpo de Cristo.

Infelizmente, a visão institucionalizada têm gerado sérios transtornos à relação interpessoal entre os cristão. Isso porque nesta esfera pessoas passam a ser números, frequentadores e possíveis contribuintes, mas raramente são conhecidas e tratadas como sacerdotes, pessoas dotadas de dons, e por tanto, aptas para compartilhar com os demais.

“Tinham tudo em comum” (v. 44). Eles tinham um senso de comunhão que ia muito além do estar juntos. Os cristãos da igreja primitiva se comprometiam de tal forma uns com os outros, a ponto de expressarem cuidado (v. 45). Havia entre ele disposição para partilhar seus bens, a fim de todos serem supridos em suas necessidades básicas. Podemos dizer que entre eles se manifestava o verdadeiro amor cristão.

Que coisa maravilhosa! Como se isso não fosse suficiente para nos convencer do fato de que a igreja que Deus deseja que sejamos e vivamos é a expressão de um organismo vivo com sua dupla relação: buscando o divino e o humano concomitantemente. Essa passagem ainda nos apresenta sinais claros e incontestáveis da benção divina, sendo manifestada entre aqueles irmãos. Observemos algumas:

“Em cada alma havia temor” (v. 43). Quando há harmonia na existência orgânica da igreja, seus membros compreendem e se submetem respeitosamente, sem reservas ao senhorio de Cristo. Eles respeitavam a Deus, respeitando uns aos outros e vivendo como verdadeiros irmãos e membros do Corpo.

Talvez, a falta de temor em nossos dias reflita nossa inclinação para um viver desconexo com o padrão estabelecido por Cristo. Quem sabe estejamos temendo mais as instituições humanas, as autoridades humanas e as construções humanas; do que a Pessoa de Cristo. Penso que, se houver temor em cada alma, viveremos como verdadeira Igreja, um organismo relacional.

“Muitos sinais e prodígios eram feitos por intermédio dos apóstolos” (v.43). Sinais e prodígios, duas coisas que atraem a atenção de uma parcela expressiva de cristãos, principalmente os da ala carismática. Na prática isso é visível com o surgimento de ministérios que até parecem deter certa exclusividade para operar tais sinais. Como nos dias de Jesus, muitos “buscam sinais”.

O que me chama atenção nesse relato dos primeiros movimentos da igreja primitiva é a naturalidade com que os sinais ocorriam, e como eles (principalmente os apóstolos) encaravam os mesmos. Não era comum entre eles a super valorização dos sinais e milagres. Não encontramos nenhum tipo de propaganda baseada nos mesmos. Os apóstolos não se consideravam mais “ungidos” por terem realizado algum sinal, ao contrario, deixavam claro que aquilo era fruto da manifestação do poder divino (ver At 3.11-16).

Se de fato cremos na soberania divina, e nos sujeitamos a ela, não podemos negar que o Senhor pode realizar qualquer sinal ou prodígio, segundo sua vontade! Era assim que os primeiros cristãos encaravam tal fato. Todavia, isso não pode ser tornar uma ferramenta de marketing, nem uma coisa assustadora, mas algo plenamente administrável pelo Deus soberano.

“Contando com a simpatia de todo o povo” (v. 47). Uma igreja simpática. Como isso era possível? Vejo aqui, mais um sinal visível da graça divina sendo ministrada por meio daquele organismo relacional. Eles não se tornaram simpáticos pelo fato de não terem expressado sua fé, e pensamentos com clareza. Penso que o grande diferencial aqui, foi a maneira como eles se relacionavam uns com os outros e não terem se afastaram dos seu contexto, nem dos seus familiares, antes expressavam o amor de Cristo a eles.

“Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (v. 47). Este é outro ponto bastante destacado entre os cristãos em todos os tempos. Não são poucos os que buscam a todo custo o “crescimento” da igreja, mesmo sem avaliar muitos dos métodos utilizados para tal.

Olhando para igreja primitiva, que método de crescimento eles utilizaram? De onde veio tal crescimento numérico? Parece que as respostas são obvias: Eles apenas se relacionavam com Deus e um com os outros, e “enquanto isso”, as pessoas eram salvas.

Nunca é demais salientar que a salvação sempre é operada por meio da graça divina, mediante a fé (ver Ef 2.8, 9). Cabe à Igreja a missão de propagar a mensagem do Evangelho, mas não lhe diz respeito a tarefa de convencer nem salvar as pessoas. Portanto, devemos testemunhar de Cristo, sem reservas, sobretudo com um estilo de vida genuinamente cristão.

Meu sincero desejo é que vivamos como organismo relacional para que em todas as coisas o nome de Cristo seja glorificado. É momento de repensarmos nossa postura, a fim de não nos tornarmos uma estrutura engessada pelos vários sistemas humanos. Sejamos Igreja, como a Igreja deve ser!

Riva dos Santos

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