“Não deixemos de
reunir-nos como igreja,
segundo o costume
de alguns, mas procuremos
encorajar-nos uns
aos outros, ainda mais
quando vocês veem
que se aproxima o Dia”
(Hb 10.25 - NVI)
As citações desenfreadas e na sua
maioria equivocadas do texto acima exposto, me instigam a tecer alguns
comentários sobre o “congregar”. Alguns se utilizam deste versículo para
“exortar” as pessoas que optaram por não compactuar das mesmas atividades
religiosas praticadas por eles.
Não são poucos os que associam
o “congregar” com a frequência sistemática de um local, que a
maioria chama de “igreja”, fato que os leva a considerar “desviados”, “sem
igreja”, “rebeldes”, “insubmissos”, etc; aqueles que não fazem parte de
instituições religiosas, nem frequentam reuniões litúrgicas. Isto se dá pela
falta de entendimento do real significado da Igreja (questão que trataremos com
maior profundidade em outra oportunidade).
Por hora nos deteremos numa abordagem
clara e pratica do texto acima destacado. Tomando-o como base, poderemos ter um
entendimento que torne mais contundente o “congregar-nos como igreja”.
“Não deixemos de reunir-nos ...
segundo o costume de alguns”. Congregar é apenas nos reunirmos
como Igreja. Isto significa estarmos juntos com outras pessoas, compartilhando
vida por meio da oração, comunhão e palavra (At 2.42). Observando as palavras
de Jesus: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estarei no
meio deles”. Estar reunido sob seu nome aponta para a
centralidade nos evangelhos, seus ensinamentos e práticas. Não se trata do mero
uso do nome de Jesus, numa fachada ou em slogans e frases de efeitos com é
comum em muitos locais e ajuntamentos religiosos.
O escritor aos Hebreus nos adverte a
respeito de muitos terem o costume de não se reunirem como Igreja. Esta é uma
clara demonstração de total desconhecimento da verdade do evangelho de Jesus.
Quem age assim, se coloca na contramão da edificação pessoal e mútua, dando
claros sinais de sua não identificação com o Senhor da Igreja. Fica evidente
que esta só pode ser uma inclinação natural daqueles que ainda não
compreenderam, e outros que jamais compreenderão o chamado da graça.
Os filhos de Deus não devem se deixar
levar pelo exclusivismo ou isolamento. Não há expressão do ser Igreja no isolamento
premeditado. Eles são impulsionados pelo Espírito Santo, que os aproxima uns
dos outros na convivência e proclamação do evangelho.
“... como igreja...”. Está claro que nem
toda reunião de pessoas expressa o verdadeiro significado de Igreja, mas toda
expressão da Igreja implica no coletivo, seja em encontros frequentes ou em
outras manifestações. A ecclesia não
depende das prerrogativas institucionais com nomenclaturas, hierarquias e
liturgias; trata-se apenas da reunião de pessoas com objetivo de adorar ao
Senhor, com liberdade e simplicidade.
Reuni-se “como igreja” não se
relaciona com a frequência sistemática a um determinado local, ainda mais
quando o mesmo é chamado de “igreja”. O que realmente importa é o encontro, as
pessoas (Igreja), a edificação mutua por meio da palavra, oração e comunhão.
Quando nos reunimos como Igreja o
Senhor se manifesta na coletividade por meio dos dons, conforme nos instrui
Pedro: “Cada um exerça o do que recebeu para servir os outros,
administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” (1
Pe 4.10 - NVI). A verdadeira igreja inspira a participação de todos,
contrariando aqueles que se assentam a espera que alguns poucos tenham o
controle das reuniões, exercendo domínio impróprio. Recordemos as palavras de
Paulo:“Que
fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este
traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo
feito para edificação” (1 Co 14.26).
“Mas procuremos encorajar-nos uns aos
outros”. Aqui está uma das maiores bênçãos decorrentes da vida comunitária do
corpo de Cristo. Na caminhada com outros irmãos somos encorajados e
encorajamos, fortalecidos e fortalecemos, ajudamos a levantar e somos
levantados quando caímos.
Olhando por este ângulo, podemos
concluir que aos nos reunirmos como Igreja somos os maiores favorecidos. Deus
não precisa dos nossos ajuntamentos, mas nós necessitamos dele e uns dos
outros. Neste sentido, deixar de “congregar” nos torna mais vulneráveis
ante as muitas lutas que enfrentamos diariamente.
Na falsa ideia proposta pelo
congregar institucional, onde a montagem é teatral e truncada, há pouquíssima
ou quase nenhuma abertura para o pleno exercício da mutualidade e encorajamento
uns dos outros. Se não houver verdadeira convivência entre os irmãos,
dificilmente desfrutaremos do pleno exercício dos dons. Se as reuniões forem
liturgicamente “corretas” provavelmente serão incorretas do ponto de vista do
engajamento e encorajamento proposto pelo evangelho.
Com é bom adorar a Deus juntamente
com pessoas que se colocam ao nosso lado como “amigos mais chegados que
irmãos”. Por meio de todos Deus manifesta sua graça, e assim seguimos o
conselho paulino: “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam
pacientes, suportando uns aos outros com amor” (Ef 4.2 – NVI).
“Ainda mais quando vocês veem que se
aproxima o Dia”. Dentre os muitos sinais bíblicos do final dos tempos, um dos mais
relacionados com o viver congregacional é o “esfriamento do amor” (Mt
24.12). Segundo Jesus isso se daria principalmente “Devido o aumento da
maldade”. A maldade reprime a manifestação do amor, e a tal esfriamento nos
afasta uns dos outros. Por esta razão devemos redobrar nossa atenção, e dar o
devido valor ao “congregar como igreja”.
Quanto mais caminhamos como
discípulos de Jesus, mais nos aproximamos da consumação de todas as coisas.
Tempo no qual o Senhor se manifestará para receber os eleitos e entregá-los ao
Pai. Tal jornada deve ser marcada pela comunhão entre os irmãos na promoção da
edificação uns dos outros, para a firme perseverança até “o Dia”.
Aos eleitos, unidos à Igreja de Jesus
Cristo, e por sua graça e misericórdia ligados uns aos outros em comunhão.
Riva
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